Com essa frase, o advogado Gustavo Guedes apontou a correlação entre o avanço na disseminação das fake news e a dificuldade de os jornais de manterem em suas redações profissionais especializados na apuração e checagem de dados. Guedes também falou sobre a conexão da imprensa e da advocacia do campo eleitoral. “Nós, advogados eleitoralistas, precisamos entender e acompanhar a imprensa. Não se faz direito eleitoral sem uma boa relação com a imprensa”, afirmou Guedes.

Guedes foi o único profissional do meio jurídico a compor o painel apresentado no segundo dia do VIII Congresso Brasileiro de Direito Eleitoral (CBDE), realizado nesta quinta-feira (2), em Curitiba. Ao seu lado estavam os jornalistas Rodrigo Haidar e Matheus Leão. O painel foi moderado por Joyce Carvalho e contou com a curadoria de Carolina Cattani.

O debate teve início com a fala de Rodrigo Haidar, que apontou que um dos principais obstáculos do jornalismo é o de ser tragado pela lógica das redes sociais e de autoridades, agentes e pessoas públicas que não querem discutir algo que precisa ser discutido. “O jornalismo profissional que deveria fazer frente a isso, acaba se deixando levar”, declarou.

Haidar defendeu então o papel do jornalismo investigativo, especialmente em ano eleitoral, e citou uma frase do professor Carlos Sena: “mentir passou a ser uma demonstração de força, quando a mentira política não tem sequer a menor intenção de convencer o seu receptor”. O jornalista completou então que “o eleitor, hoje, não está preocupado se a mensagem faz sentido ou não, se esta encontrar alguém que quer que faça sentido, ela já faz sentido. E nesse quadro aumenta a responsabilidade do jornalismo profissional de separar o que é informação e o que é maluquice.”

A palavra foi passada para o jornalista Matheus Leitão, que ressaltou que as eleições de 2022 serão mais difíceis do que a anterior por conta da checagem de fatos precisar ser intensificada. Leitão destacou então o papel dos jornalistas em questionar os candidatos. “Nós jornalistas temos o dever de extrair do candidato quais são suas propostas”, afirmou. O jornalista destacou que ainda é preciso dar mais atenção à disseminação de notícias falsas. “Nessa era das fake news, o nosso maior desafio é o de buscar tirá-las do foco e investir na checagem de informações e fatos. Tentando fazer com que, este ano, elas não saiam impunes”, pontuou.

Homenagem

Uma homenagem à jornalista Cristiana Lôbo, falecida em novembro do ano passado, abriu o painel. Foram exibidos depoimentos dos jornalistas Nilson Klava, Valdo Cruz, Andréia Sadi e Júlia Duailibi.

As instituições organizadoras do CBDE encaminharão aos filhos da jornalista uma placa em sua homenagem com os dizeres: “À eterna Cristiana Lôbo, jornalista por formação, vocação e paixão. Conheceu como poucos o caminho da notícia correta, checada e confirmada. Foi precursora no jornalismo político, responsável por abrir caminho para tantos profissionais nesse tipo de cobertura, especialmente as mulheres”.

“É com muito carinho que fazemos essa homenagem. Não achamos que poderíamos ter um painel sobre imprensa investigativa, cobertura de imprensa no ano eleitoral, sem homenageá-la”, destacou Gustavo Guedes.